quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Analise do filme: O Curioso caso de Benjamin Button.


O nascimento de Benjamin se inicia com acontecimentos que marca grande parte o desenvolvimento de sua psique, sua mãe que o tanto desejava morre e seu pai ao ver sua doença rejeita e acaba fugindo com ele e abandonando-o na porta da casa de outro. Como vemos em “A arte de recriar o passado: História oral e velhice bem-sucedida” no desenvolvimento e envelhecimento de Anita Liberalesso, do ponto de vista técnico, o principal objetivo do método biográfico ou historia oral é, com auxilio de informantes, construírem versões sobre o passado que a memória deles (falando nos idosos) permita elaborar; completando as informações com dados obtidos por meio de outros suportes empíricos (escritos ou imagéticos) têm-se condições de analisá-los e interpretá-los, elaborando-se assim outra versão, que supostamente é mais próxima da realidade. Mas como isto se aplicaria na vida cinematográfica de Benjamin que nasceu “ao contrario”, com aparência e corpo de uma pessoa aproximada de 80 anos para mais. (isto explica a rejeição de seu pai assim que nasceu), Espera-se ela completar seu ciclo de desenvolvimento e voltar a ser criança? Mas ainda assim, como recriar o passado se sua memória se funde ao seu corpo e sua tendência é a diminuição de suas capacidades memoriais – como visto no final do filme, onde sua mulher acaba virando “sua mãe” e ele volta a ser um bebe – comprometendo seu raciocínio lógico. E tendo isto em vista, chega-se a conclusão que “o mesmo” acontece com o idoso, pois o envelhecimento é um processo de perdas em relações a muitos aspectos da vida, claro que, entretanto, algumas coisas, ao contrario de serem perdidas, acumulam-se. Mas o processo de envelhecimento, sem dúvidas, desencadeia o aumento das limitações das capacidades da memória e de ordem biológica, em decorrência de fatores de natureza genética e ambiental, chegando assim a Benjamin como um bebê.
Com clareza o filme mostra todo o tempo a arte de recriar o passando quando, por exemplo, no início do filme com o desejo consciente do senhor que acabou construindo um relógio que voltava para traz, com o desejo coibido em regredir, mexer e finalmente modificar o passado, para que pudesse ter novamente seu filho ou, ainda na mulher, que em seu leito de morte, também logo no início do filme passa por uma revisão de existência. Nota-se que as pessoas nunca se desligam de suas histórias pessoais, e quanto mais velhos ficamos mais próximos estamos de nosso passado, fazendo uma regressão inconsciente com grandes desejos canalizados em nosso interior. Do contrario de Gordon Allport que diz que o individuo é uma criatura mais do presente que do passado. Contrariando ainda mais Henry Murray, que enfatizou a qualidade orgânica (raiz, de onde venho), do comportamento, indicando que um segmento do comportamento não pode ser compreendido isoladamente do restante da pessoa em funcionamento.
Benjamin que “perdeu” toda sua família ao nascer encontrou por meio de tropeços outra mãe, uma mãe que não muito diferente de sua mãe biológica o desejava muito o superprotegia privando de suas obrigações como criança, (brincar); neste ponto seu corpo não conseguia sustentar sua velhice e ele não conseguia caminhar, então, andava com ajuda de cadeiras de rodas, logo não poderia brincar na rua com outras crianças e ficava apenas desejando – e muito – sair e se divertir. Benjamin em seu físico era um idoso, mas não tinha a maturidade que alcançamos com a velhice esta que desde sempre constitui desafios a todas as sociedades humanas, sobretudo Benjamin observava e aguardava buscando uma ou mais respostas possíveis do porque ele era velho sem lembrar-se de ter vivenciado uma infância, mesmo sendo horas inseguro, horas confiante, pois, suas experiências eram adultas e assim tomava várias decisões sozinho, e em algumas não tinha consciência de seus comportamentos.
Conforme o tempo ia passando ele ficava mais velho (psique - mente), mas seu corpo ficava mais novo (físico), passando assim por mudanças físicas e mentais. Na puberdade os pelos voltam a crescer, o cabelo fica mais escuro, já se tinha muitos cabelos e a careca ia embora; neste período Benjamin já consegue caminhar, e na sua luta pela independência e autonomia acaba encontrando meio que por acaso um primeiro emprego. No desenvolvimento da personalidade o tempo simboliza algo, com quase 18 anos saiu de casa. Em 1936 – este foi seu real grito pela independência.
O envelhecer de hoje, nos tempos modernos implica em muitos casos nos tempos de mudança, talvez o filme possa ter feito uma analogia perfeita com o que chamam hoje do novo adolescente, que quando chega nos 50 anos, quer voltar e viver o que deixou para traz; claro, que Benjamin não viveu nada de sua infância física então existia uma necessidade maior de se aventurar. Sua dificuldade de encarar a velhice com suas limitações implicadas e aplicadas por sua mãe e angustias gerado pelas incertezas eram talvez as mesmas dificuldades de se pensar no futuro; de se ter consciência da passagem do tempo e da existência. Alguns dos reais idosos preferem pensar na morte dizendo “morrerei antes de ficar velho” porque não conseguem encarar este fantasma. “Quando se é velho – escreve Sófocles – a razão se extingue, a ação torna-se inútil e se tem vãs preocupações”. Em suma, a verdade de Benjamin, era que não corria riscos de ser atormentados por pensamento como “o que eu fiz na minha vida toda?”, já que seus fantasmas eram o “qual a explicação de eu ser assim?”.
Esta fase das grandes transformações gerou um aumento de incertezas, dúvidas e inseguranças, porem, não o afetaram e nem suas relações interpessoais. As mudanças foram tantas que, até mesmo nos eventos e atividades mais comuns de nossa vida para ele era uma grande conquista. Já que o médico que examinou Benjamin quando era bebê disse que não restara muito tempo de vida para ele. Mas conforme o tempo passava Benjamin parecia ainda mais confuso sobre sua existência enquanto humano – as pessoas precisam conhecer a própria origem para que o desenvolvimento seja o rumo da “normalidade”, “não ter” origem ou não conhecê-la forma uma ferida egoíca que nunca se cura e não deixa de ser latente. O mundo sempre pareceu muito estranho para Benjamin, mesmo assim encontrou seu lugar no mundo, provando que a resiliência é real tanto quanto é verdade que o tempo passa... Ao crescermos nos tornamos mais resilientes – se tivermos um bom autoconhecimento, é claro.
Benjamin demonstrou ter medos em relação a ser pai, medo de que a criança fosse como ele, ou, que ele não pudesse ser um bom pai ou talvez que Deise precisa-se cuidar da filha e de Benjamin – já que estava regredindo fisicamente, e agora, estava ficando com uma aparência mais jovem – rejuvenescendo. Os fantasmas na mente de Benjamin o incomodavam com relação a isto. Teve medo de enfrentar seu próprio desenvolvimento e fraquejou ao negar-se enquanto alguém que “realmente envelhecia por dentro”. Mas isto logo veio à tona e ele teve sua primeira e única filha, onde não ficou presente por muito tempo mas “participou” da vida da filha por vários anos mandando sempre em seu aniversario cartões desejando os parabéns; Benjamin desejou ser criança quando era velho,e desejou ser velho quando era criança (nosso corpo acompanha a nossa mente.)
Deise transforma seu amor de mulher para amor de mãe e continua transformando amor em atitudes. Benjamin não consegue lembrar-se de nada, e nem de ninguém, lembrava apenas e vagamente de Deise, e agora, era totalmente dependente, vejamos como Julieta Sathler nos fala da dependência quanto criança:

“Sabemos como a dependência da criança é extrema. Ser amada, nesse estagio, é o mesmo que ser cuidada. Incapaz de dar conta das carências que o afligem, a sobrevivência do pequeno ser se resolve no submetimento ao desejo desse outro que ama-cuida. Reconhecemos próprios desejos para poder buscar meios de satisfação requer um longo e laborioso trabalho de discriminação dentre o que sou e desejo e o que querem que eu seja e deseje. Nessa labutam há perdas e ganhos. Perde-se a crença no outro como aquele que tem a chave do deciframento da nossa carência. Se ganha à possibilidade de escolha, a partir do discernimento do desejo próprio. Perde-se a ilusão da onipotência do outro. Se ganha autonomia. (1994, p.42)

Benjamin chega ao final de sua vida, e morre aos braços de sua mulher, Deise. O relógio é trocado e o tempo volta a andar para frente.





Referencias Bibliográficas:

SATHER, J. e PY, L. “Discurso e iIentidade: Uma visão sócioconstitucionalista da velhice”. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1994
LIBERALESSO, Anita. “Desenvolvimento e envelhecimento: Perspectivas biológicas, psicológicas e sociológicas” Campinas, SP: Papirus, 2001.

6 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom. Aplausos!

Gutt e Ariane disse...

Esse filme de tão surreal, torna-se simplesmente fantástico! na época, quando minha mulher me convidou pra ir ver no cinema, não botava muita fé, achava que ia ser mais um besteirol(mesmo com aquele elenco todo) e veja só, que grata surpresa!!
Sai foi boquiaberto da sala do cinema!! rsrsrs

Helena Chiarello disse...

Não vi o filme (ainda), mas depois dessa leitura, vou providenciar isso, urgente!
Grata pela visita ao (IN)FOTO. Legal encontrar um conterrâneo blogueiro!
Abração, Vitor!

Daniel Silva disse...

esse filme é maravilhoso.. demorei tempos para assistir e quando finalmente pude conferir fiquei maravilhado.

parabéns pela análise.

pris disse...

Ja tinha assistido o filme e gostei muito, muito boa a analise, faz sentido... vlw!

Unknown disse...

Logo a ciência definirá como a síndrome de Benjamim ou de Botton assim como a Síndrome de Petter Pan


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